segunda-feira, 26 de abril de 2010

Na corda do violão

Viver é algo que me impressiona e me assusta. A mistura entre o belo e o disforme, entre o alívio e a aflição. A experiência de ser humano me amedronta e me afasta, mas me enche os olhos. Queria ser humano por décadas, atravessar os ciclos cósmicos aprendendo que ser, e estar, seriam condições passageiras, e que o amargor da saliva esquecida é fato probatório. Eu queria tanta coisa, e não queria nada. São variantes não matemáticas que me dão vertigem, tamanha sua vastidão. Eu queria hoje abraçar você, ouvir teu sangue correr nos braços firmes que me seguraram com tanta leveza, e me firmar na segurança que eu mesmo criei estando com você. Penso que querer é a estimativa cruel que crio ao bel prazer do meu egoísmo, mas ainda assim quero, e ao mesmo tempo desprezo minha própria vontade.

Quando os violões soarem meu peito de forma reconfortante, a alegria vai ser tamanha, que o exagero poderá vir a estragar tudo, e o belo, será o pútrefo, nas entrelinhas separadas à quilômetros pela minha inconstância.

Ser feliz devia ser item de fábrica. Permanente.


Um comentário:

  1. "A experiência de ser humano me amedronta e me afasta, mas me enche os olhos". Definição do que é viver para aqueles que se deixam levar pela sensibilidade, pela emoção e que se prontificam para a razão. Pois a existência é essa: nascemos de certa maneira prontos, pois a sociedade já vem amargando suas escolhas. Somos fruto dessas escolhas. Somos gota nesse oceano belíssimo, bombardeado por tubarões e pelas forças da natureza. Eis o desafio de enfrantá-las. Viver é simples, mas dá medo, assusta como citação referida. Viver [...]enche os olhos[...] de toda busca que travamos desde o momento que decidimos continuar. Alegria talvez seja esse caminhar, sem desistir. Parabéns pelo blog, sempre reflexivo com suas palavras cheias de filosofia e sensibilidade. É você escrevendo-se. Abraços

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